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Patrimônio de Pelotas: Etnias indígenas de Pelotas

A partir de estudos arqueológicos, os povos ameríndios habitam na região sul do estado há mais de 2500 mil anos


Pelotas é uma cidade formada com contribuições culturais oriundas de diversos grupos étnicos e raciais. Há mais de 2500 anos, ocupava em torno da Laguna dos Patos e da Lagoa Mirim, povos ameríndios de três etnias indígenas: Mbyá Guarani, Minuano/Charrua e Kaingang. Este texto promove o conhecimento para com as culturas indígenas presentes em Pelotas.

É importante salientar que ao falarmos sobre os Guaranis é preciso compreender há subdivisões de etnias e apesar de possuir características semelhantes, cada grupo étnico tem suas particularidades que englobam religião, fala, habilidades manuais, entre outros aspectos. Sendo assim, a melhor forma de identificação é a autodeclaração, tendo em vista que se trata sobre identidade, pertencimento e percepção destes povos sobre si mesmos e perante aos demais, e não sobre avaliações de julgamentos, critérios acadêmicos ou demarcações territoriais. 

De acordo com o coordenador do conselho de articulação das comunidades Mbyá-Guarani, Maurício Gonçalves, Pelotas é um ponto de ocupação tradicional Guarani. Entretanto, apesar de estarem aqui há milênios, os estudos arqueológicos iniciaram-se apenas na metade do século passado. Entre os principais resultados estão: na região, havia grupos pampeanos vinculados à tradição arqueológica Vieira, considerados como ancestrais dos Charruas e Minuanos históricos. Foi identificado mandíbulas humanas, artefatos de cerâmicas, escavação funerária. Os povos articulavam-se e trocavam bens. Para os Guaranis, a escolha pelos seus territórios era baseada em critérios de parentesco e de reciprocidade. 

Escavação de urna funerária guarani no sítio PSGPA-04-Ribes, localizado na serra do Sudeste, Pelotas-RS.  Foto: Acervo LEPAARQ.

Escavação de urna funerária guarani no sítio PSGPA-04-Ribes, localizado na serra do Sudeste, Pelotas-RS. (Foto: Acervo LEPAARQ)

No que toca à religiosidade dos povos indígenas, atualmente preferem não dialogar tanto a respeito deste tema, como estratégia de proteção às suas crenças. Nas divisões de tarefas, os Mbyá organizavam-se de acordo com o gênero. Os homens eram responsáveis pela pesca, pela caça, enquanto as mulheres exerciam o ofício de cuidar dos alimentos, das louças e das roupas e seja desta forma até hoje.

Há quem pense que no início da colonização, os indígenas não lutavam a favor de suas terras. Registros que apontam guerras planejadas pelos charruas, onde poucos europeus conseguiram retornar vivos para seus países. Neste período, grandes nomes de lideranças indígenas ganharam evidência, tais quais os caciques Sepé Tyaraju, Andrés Guacurarí e Francisco Solano López. 

 

Ilustração representando Sepé. (Foto: Reprodução/aventurasnahistoria Divulgação/Memorial da Epopeia Riograndense)

Um dos exemplos de conflitos territoriais e religiosos entre guaranis e europeus foi a Guerra Guaranítica. Uma carta escrita por Sepé endereçada ao governador de Buenos Aires, nela estava escrito: “Senhor Governador, se não quereis ouvir as nossas razões [...] Devemos enviar nossas cartas a todos os países, a fim de que os infiéis fiquem ao corrente da nossa triste situação.” Em outro documento, há outro relato: "Mas nunca acreditaremos nisso e nunca tal acontecerá.” Depõe um líder guarani recusando a doar as terras para os juruás. 

Pelotas está dentro do amplo território Guarani. Os guaranis residem numa pequena área na Colônia Santa Helena, 8º Distrito, que se intitula de Kapi’i Ovy (Capim Verde). Já os caingangues conquistaram junto à prefeitura de Pelotas, em 2016, na Colônia Santa Eulália, 5º Distrito, reconhecida como de Especial Interesse Cultural e Social, na qual constituíram a Comunidade Gyró (Pelota de Barro).

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Aldeia Indígena Kaingang Gyró. (Foto: Volmer Perez)

O artesanato para as etnias indígenas representa não somente um modo de se expressar, mas também se relaciona com conhecimento ancestral, identidade étnica e é uma das principais fontes de renda das famílias. Como relatado pelos Mbyá, os arcos não são mais produzidos para uso próprio, exceto para venderem aos juruás (brancos). Trazemos como exemplo, a cestaria Ajaka Mbyá-Guarani, feitas com taquara, coletadas pelos homens e trançadas pelas mulheres.

As cestarias possuem objetivos para o uso doméstico, religioso e comercial. Ipará korá, padrão gráfico mais recorrente nos cestos destinados ao comércio, também é utilizado por grupos Kaiowá. O estilo ipará korá é a denominação dada à combinação de várias formas geométricas encontradas na malha do corpo das cobras cascavel. Considerada invencível entre as demais cobras.

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Artesanato Mbyá-Guarani. (Foto: Helena Almeida)

Infelizmente, durante e pós período colonial, muitos indígenas morreram, foram escravizados e tiveram o seu modo de viver desumanizado. Atualmente os povos indígenas presentes na região lutam pelo direito a terra, a cidadania, a dignidade. Existem líderes que hoje persistem para novas mudanças, como por exemplo Cacique Pedro Salvador, etnia Kaingang.

Fonte: Diário Popular; LEPAARQ; Monografia: A Presença Guarani na Região de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil: Apontamentos para uma revisão a partir do diálogo intercultural; Cimi; Aventuras na historia; Jornal Zero Hora

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